Autor(a): Carlos Heitor Cony
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2014
Páginas: 244
ISBN: 9788520939086
Sinopse: O quase-romance de Carlos Heitor Cony transporta o leitor para um outro mundo, um mundo que acabou, nas palavras de seu autor. O mundo de seu pai, jornalista como ele, mas de um tempo perdido; do Rio capital federal, do compadrio despudorado, não da violência. Do dia a dia indulgente. Na elegia ao pai que é Quase Memória, o protagonista Ernesto Cony Filho é o corpo e o espírito da época. Sonha alto, dorme prometendo grandes feitos amanhã. E o que faz é atolar-se nos próprios sonhos, desfazer-se deles, criar outros e outros. É uma figura quixotesca, patética, no relato quase cruel do filho, mas por isso mesmo fascinante.
Olá, pessoal! Tudo bem? Para quem não sabe, sou formada em Letras e um dos livros que tive a oportunidade de conhecer durante a disciplina de Teoria da Literatura foi o "Quase Memória" do autor Carlos Heitor Cony.
O livro “Quase Memória” marcou o retorno do jornalista Carlos Heitor Cony às grandes narrativas após um período de mais de vinte anos sem produzir obras literárias. Vencedor de dois prêmios Jabuti, nas categorias de melhor romance e livro do ano, “Quase Memória” narra as peripécias de Ernesto Cony Filho, pai do autor, em uma espécie de autobiografia combinada a um romance.
"Uma quase memória, ou um quase romance, uma quase biografia. Um quase quase que nunca se materializa em coisa real como esse embrulho, que me foi enviado tão estranhamente."
A narrativa do livro se inicia quando Cony, após seu almoço no Hotel Novo Mundo, recebe um embrulho das mãos de um porteiro. Cony recolhe o embrulho tentando demonstrar a maior naturalidade possível apesar da estranheza da situação em que se encontrava pois, ainda que almoçasse no restaurante deste mesmo hotel uma ou duas vezes por semana, não havia nenhuma chance de alguém conhecê-lo ali.
Basta Cony analisar o embrulho com maior cuidado para perceber que tudo nele lembrava seu pai. A letra era de seu pai, o nó feito com tamanha sagacidade no barbante ordinário só poderia ser da autoria de seu pai, o modo como o embrulho havia sido feito, o cheiro de fumo e água de alfazema que emanava dele. O embrulho, que aparentava ter sido feito recentemente, continha fresco todos os detalhes que Cony já havia testemunhado tantas vezes seu pai fazer, cuidadosamente, em outros embrulhos. Ainda assim, havia algo de errado naquilo tudo.
"Recente, feito e amarrado há pouco, tudo no envelope revelava: ele, o pai inteiro, com suas manias e cheiros. Apenas uma coisa não fazia sentido. Estávamos - como já disse - em novembro de 1995. E o pai morrera, aos 91 anos, no dia 14 de janeiro de 1985."
Toda a narrativa do livro gira em torno deste embrulho, que desperta em Cony diversas memórias de seu pai. A cada capítulo Carlos Heitor Cony, como narrador, relembra as peripécias de seu pai e, automaticamente, conta um pouco de si mesmo através da figura do anti-herói da história.
Apesar de no inicio do livro deduzirmos que Cony e seu pai provavelmente tinham algum problema em seu relacionamento, ao lermos as memórias dos acontecimentos percebemos que a situação é contrária pois o livro é repleto de momentos de carinho entre pai e filho, momentos únicos onde cabe apenas ser compartilhado entre duas pessoas para ser único e especial, como quando Cony, ainda criança, ajudava seu pai, depois de uma ansiosa e demorada espera, a fazer os balões de Santo Antônio.
"Era um balão dele, e meu também, pois o ajudara na hora mais difícil, que era a de fechar os gomos com linha crua, eu segurava a panela onde ele fazia a cola de farinha(...)"
Uma das coisas que mais gostei no livro foi exatamente a narrativa memórias. Cony intercala de maneira brilhante os acontecimentos de sua vida despertando em nós, leitores, diversas emoções. Do começo ao fim do livro vamos das gargalhadas ao choro e temos prova suficiente de que o pai do autor era uma figura.
Dono de uma personalidade única, o pai de Cony proporcionou ao filho lembranças de uma infância feliz, apesar dos pesares, mas também regadas de trapalhadas e situações embaraçosas, que não eram poucas. Basta imaginarmos nosso pai caindo da mangueira do cemitério em meio a um velório para entendermos que Cony passou por poucas e boas.
Mas independente das situações em que Cony se via a cada invenção de moda de seu pai, é evidente a cada capítulo a admiração do filho. A ligação existente entre os dois é tão difícil de se desfazer quanto os nós que seu pai, e somente seu pai, sabia fazer. Assim como o nó do embrulho que Cony havia recebido.
O mais legal de tudo é que o embrulho se mostra tão importante no livro que pode até mesmo ser considerado um personagem e, mesmo sem ser aberto, traz a Cony memórias e mais memórias de uma pessoa única e insubstituível em sua vida, o permitindo reviver momentos que antes, talvez, ele temesse revisitar.
"Por isso mesmo, não tive pressa em abri-lo. Olhava o embrulho sem curiosidade e, agora, sem susto. Conhecendo o pai como conhecia, eu não devia estar admirado de ter recebido aquilo. Onde quer que estivesse e como estivesse, ele daria um jeito de se fazer sentir, de estar presente."
Uma curiosidade sobre o livro é que a cadelinha de Carlos Heitor Cony, a quem é dedicado o livro, estava morrendo quando o autor o escrevia. Posso estar errada, mas para mim é possível que o fato da morte o tenha levado a repensar na vida, a escrever um livro que alude não apenas a perda anterior de uma pessoa muito querida, como ao embrulho, constante e insistentemente citado ao longo do livro, e mencionado sempre como embrulho, nunca um pacote ou envelope, como se um embrulho no estômago que precisasse ser desfeito, como um conflito interior que precisasse ser resolvido consigo próprio.
O mais legal de tudo é que o embrulho se mostra tão importante no livro que pode até mesmo ser considerado um personagem e, mesmo sem ser aberto, traz a Cony memórias e mais memórias de uma pessoa única e insubstituível em sua vida, o permitindo reviver momentos que antes, talvez, ele temesse revisitar.
"Por isso mesmo, não tive pressa em abri-lo. Olhava o embrulho sem curiosidade e, agora, sem susto. Conhecendo o pai como conhecia, eu não devia estar admirado de ter recebido aquilo. Onde quer que estivesse e como estivesse, ele daria um jeito de se fazer sentir, de estar presente."
Uma curiosidade sobre o livro é que a cadelinha de Carlos Heitor Cony, a quem é dedicado o livro, estava morrendo quando o autor o escrevia. Posso estar errada, mas para mim é possível que o fato da morte o tenha levado a repensar na vida, a escrever um livro que alude não apenas a perda anterior de uma pessoa muito querida, como ao embrulho, constante e insistentemente citado ao longo do livro, e mencionado sempre como embrulho, nunca um pacote ou envelope, como se um embrulho no estômago que precisasse ser desfeito, como um conflito interior que precisasse ser resolvido consigo próprio.
"Quase Memória" é um livro maravilhoso que realmente vale muito a pena ser lido e fico muito feliz de ter tido a oportunidade de conhecê-lo. Um livro humano, com laços e acontecimentos humanos, simplesmente emocionante e que fez com que eu me perguntasse a todo momento o que exatamente era memória e o que era romance.
"Ele viveu e morreu sem rancor, é certo, mas se tento achar alguma relação entre os dois embrulhos, a coisa se complica. E o que quer que esteja ali dentro é um adendo desnecessário a quem saiu da vida sem fazer barulho, na ponta dos pés, ele que sempre fazia alguma forma de barulho."
"Ele viveu e morreu sem rancor, é certo, mas se tento achar alguma relação entre os dois embrulhos, a coisa se complica. E o que quer que esteja ali dentro é um adendo desnecessário a quem saiu da vida sem fazer barulho, na ponta dos pés, ele que sempre fazia alguma forma de barulho."
Adorei a sua resenha! Tive a oportunidade de ler esse livro graças à TAG - Experiências literárias e AMEY. Adoro o tom de nostalgia que o livro toma, toda essa coisa de memórias mexe muito comigo também e me identifiquei em muitas partes. Adorei os quotes que você selecionou e também adoro aquela parte dos balões. Tudo muito lindo. ^^
ResponderExcluirTAG mellhor coisa do mundo! Tem um tom super nostálgico mesmo, adoro isso. É um livro maravilhoso!
ExcluirQue legal, esse quase me chamou muita atenção.
ResponderExcluirAchei a história curiosa
Gostei, muito legal.
Blog ArroJada Mix
Recomendo!
ExcluirExcelente livro Quase Memória do autor Carlos Heitor Cony, achei legal que o autor narra as peripécias de seu pai, é maravilhoso pode ler um livro como esse do Carlos Heitor Cony, muito boa a resenha ainda não tinha ouvido falar do livro, bjs.
ResponderExcluirObrigada, Lucimar! Super recomendo.
ExcluirEnquanto lia a resenha fiquei imaginando quão bela é essa narrativa e senti vontade de conhecer a escrita do autor. Obrigada pela apresentação desse quase romance!! Beijos.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado! Quando puder leia, é um livro maravilhoso.
ExcluirNão faz muito meu estilo de leitura, mas sua resenha ficou tão maravilhosa que já quero ler esse livro.
ResponderExcluirBeijos.
spkyjmchrstms.blogspot.com.br
Obrigada, Karen!
ExcluirÉ muito bom lermos livros que nos tocam assim né? Nao conhecia, deve ser uma leitura muito boa!
ResponderExcluirÉ bom sim, Vany! Leitura maravilhosa.
ExcluirResenha muito boa, mas não leria! beijos :*
ResponderExcluirwww.blogdoce18.com
Ainda assim agradeço, Anny!
ExcluirNunca ouvir falar desse livro, mas ele parece ser muito bom! Adorei a sua resenha 😻💙 Vou colocar esse livro na minhas lista de livros para ler! 😻✨👏
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Carlos! Quando ler me diz o que achou.
ExcluirEssa resenha foi uma das mais bonitas que já li! Adoraria muito ler o livro porque mostra um vínculo muito especial entre pai e filho, parece ser muito emocionante e consegui perceber isso pela sinopse! Gostei demais
ResponderExcluirÉ bem emocionante sim, Dandara! Um livro que vale muito a pena ser lido.
ExcluirAchei o livro muito interessante.
ResponderExcluirMemorias de um pai e um filho, isso é muito emocionante
Abraços
Livro muito bom, Sil! Recomendo.
ExcluirAchei bem interessante a resenha, ainda não conhecia esse livro, mas amei a capa <3
ResponderExcluirA capa é linda mesmo, não é?! E o legal é que tem a ver com a história do livro.
ExcluirNão conhecia esse autor, esse livro parece ser fantástico, já quero ler, achei legal isso de sempre tá citando o embrulho e parecer até ser um personagem de tanto que é citado
ResponderExcluirÉ muito legal sim, Beatriz. Um livro e tanto.
ExcluirQue legal, fiquei com vontade de ler para conhecer!
ResponderExcluirSuper recomendo, Melissa!
ExcluirOi Mari, a resenha esta ótima deu vontade de ler o livro , deixastes teus seguidores curiosos sem duvidas. E quero elogiar tambem as tuas fotos do post estão maravilhosas, muito capricho parabens!!
ResponderExcluirMuito obrigada, Nani! Fico super feliz que tenha gostado. Recomendo demais o livro.
ExcluirSuper resenha a sua bem detalhada, deu curiosidade de ler
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirÓtima resenha e o livro parece ter uma historia muito interessante.
ResponderExcluirUma historia diferente e que chama atenção por tantos quase e pontos de interrogação.
Bjinhos,
www.prosaamiga.com.br
É uma história maravilhosa! Recomendo demais.
ExcluirOiiie,
ResponderExcluireu gostei pq o livro me parece ter uma boa historia então a resenha dele foi show, eu ainda não conhecia esse mas tenho uma listinha que pretendo começar a ler rsrs quem sabe ne?
Recomendo demais, Alzinete! Livrão para ler.
ExcluirBom dia, como vai? Confesso que ainda nao conhecia o livro
ResponderExcluirmas gostei bastante da sua resenha
beijos
Boa noite, Marya! Vou bem e você? Fico feliz que tenha gostado. Beijos
ExcluirOi!
ResponderExcluirEu adorei a resenha 😀 a história é maravilhosa, já coloquei na lista de leitura.
Bjo
Quando ler me conta o que achou, Joana!
ExcluirMe interessei pq eu adoro ler romances!!! Adorei a resenha!!!
ResponderExcluirQuando puder dá uma lida! =)
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