Editora: Clube de Literatura Cromos
Ano: 1994
Páginas: 144
ISBN: 9999094163351
Sinopse: "O drama é deveras envolvente. Coloca em primeiro plano, como nos diz em sua síntese o próprio autor, uma "menina nascida de um amor proibido", filha de mísero serviçal com moça da alta estirpe patriarcal campista. Esta pobrezinha criatura, indesejada pelo avô materno - verdadeiro potentado do açúcar -, é desgraçadamente depositada, no silêncio da noite escura, na roda dos expostos, armação giratória de madeira, de formato típico, entalhado num dos vãos externos da antiga e vetusta Santa Casa de Misericórdia, na Praça São Salvados, em Campos.
Tive a oportunidade de conhecer o romance "A Roda dos Expostos" na faculdade, dentro da disciplina de Literatura e Cultura Regional. Seu autor, Waldir P. de Carvalho, é meu conterrâneo, e nasceu e viveu na cidade de Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro. Com este livro pude conhecer um pouco melhor sobre a história do lugar onde vivo e, mesmo narrando um dos lados obscuros da nossa história, achei que valia muito a pena dividir o livro aqui com vocês.
Em "A Roda dos Expostos" é narrada a história de amor proibida entre dois jovens, Carolina e Alexandre, no decorrer do ano de 1843, quando a sociedade campista ainda era marcantemente dividida entre famílias tradicionais e menos favorecidas e o preconceito social era lei na cabeça da maioria. Carolina, filha do Comendador Guilherme e de dona Amélia, estava completamente apaixonada por Alexandre, filho de um simples serralheiro de nome Onório e Inácia, que retribuía o amor da moça.
Os jovens tinham o costume de se encontrar as escondidas todas as noites na Praça Principal, hoje conhecida como Praça São Salvador. O encontro era sempre breve, acanhado devido ao perigo de serem descobertos e sempre interrompido pelo sino do toque de recolher que vinha da cadeia.
"Quando aquele sino derrama sobre os telhados da cidade o seu lamentoso toque, [...] estão sendo proibidas da liberdade, estão, de algum modo, detidas por mais uma noite..."
Enquanto isso os pais de Carolina, não sabendo que a moça andava com a cabeça nas nuvens por conta de seus sentimentos por Alexandre, andam preocupados com o comportamento da filha. Concordam que a menina se comportava de forma estranha, já não frequentava as aulas de dança, parecia preocupada. É então que, após breve conversa, o Comendador Guilherme e sua esposa, dona Amélia, decidem que irão contratar um professor particular para Carolina, incentivando-a a continuar suas aulas sem mais interrupções, prezando a educação que toda dama daquela época deveria receber.
Dito e feito, sem muita demora o Professor Costa aparece ao sobrado do Comendador para iniciar suas aulas com Carolina. Logo após a primeira aula o professor deixa claro aos pais da jovem que a mesma anda com a cabeça nas nuvens, não acerta um passo, mas que não deveriam desistir, pois a menina tinha jeito para a dança.
Porém, nas aulas seguintes Carolina não demonstra nenhum sinal de melhora, sendo assim, o professor pergunta o que a aflige, diz que parece preocupada e, transmitindo um ar de total confiança e experiência de vida para menina, ela finalmente se abre com o professor e conta sobre sua paixão por Alexandre. Mal sabia Carolina que o Professor Costa já havia presenciado um de seus encontros com Alexandre na praça e, nutrindo certo sentimento pela aluna, se encontrava disposto a delatar tal namoro ao Comendador Guilherme, interpretando seu papel de professor preocupado e responsável.
"Comendador, por incrível que pareça, um modesto professor de danças e de letras para iniciantes, às vezes, é levado a desempenhar, como direi, missões maiores."
É então que Carolina se vê estritamente proibida por seu pai de se encontrar novamente com Alexandre. Para ele uma menina de sua classe e família de costumes não deveria alimentar sentimentos e muito menos manter um relacionamento com um rapaz simples e pobre, filho de serralheiro. Ciente então de que sua filha desistiria do namorico, Guilherme não esperava que Jacinta, serviçal de confiança, ajudaria sua menina entregando a Alexandre um bilhete esclarecendo toda sua situação.
Após o acontecido, o proibido encontro do casal passa a ter novo cenário. Todas as noites Alexandre espera por Carolina em frente a sua casa, na Beira-rio, oculto sob a sombra da figueira. Não se limitando a apenas portar o bilhete de Carolina, Jacinta se encontra, incumbida pelo Comendador, na missão de vigiar Carolina durante toda a noite, porém, não podendo negar aos pedidos amorosos de sua menina, Jacinta acaba por virar sua cúmplice a toda fuga noturna.
Suspeitando de que sua filha ainda se encontrava com Alexandre o Comendador Guilherme decide uma noite, fingindo ter ido a seus jogos de carta, esperar escondido pelo encontro que acontecia em frente a sua casa, pegando Alexandre de surpresa. Não concebendo tamanho abuso da parte de Alexandre o comendador o proíbe de procurar sua filha novamente, o ameaça de morte mas, ainda assim, é desafiado pelo rapaz que, mesmo sob ameaça, alega que não desistirá de sua amada.
Após a ocasião Alexandre passa a andar armado, o que preocupa mais ainda seus pais, Onório e Inácia, que já pressentiam que tal envolvimento com a filha de um homem importante e perigoso não terminaria bem para o filho. O fato é que, a certa altura, Carolina e Alexandre já haviam se entregado de todas as formas possíveis aos seus sentimentos e a moça carregada no ventre o fruto de tal entrega.
"Toda a aflição do mundo toma conta daqueles dois seres feitos para o verdadeiro amor, mas vítimas de um preconceito que já deveria ter desaparecido da face da terra com o final da Idade Média."
Diante dessas circunstâncias, sem saber ao certo o que fazer, assustada e sob a pressão de um casamento arranjado por seu pai com seu primo Rogério, Carolina se vê obrigada a contar a verdade para sua mãe que, mesmo compreensiva, não tem outra escolha a não ser revelar a verdade, que mais cedo ou mais tarde se revelaria, para o Comendador Guilherme.Completamente transtornado com a traição de sua filha Guilherme acaba decidindo que a jovem passará a viver trancada dentro de sua própria casa para que ninguém venha a descobrir sua atual situação, enquanto Alexandre pagaria pelo seu atrevimento.
Tendo conhecimento por meio de Jacinta que o Comendador havia contratado capangas para matá-lo, Alexandre decide de uma vez por todas fugir com Carolina para bem longe de Campos. Porém, na noite em que a fuga estava marcada, logo após aparecer sob a vista de Carolina, Alexandre se vê obrigado a desistir pois aos capangas contratados pelo Comendador estarem presentes.
Após o nascimento da filha de Carolina, o destino da pequena é decidido pelo Comendador, que ordena a Jacinta que leve a criança para a roda dos expostos, uma espécie de janela em forma de roleta que ficava próxima a esquina da beira-rio, em frente à Santa Casa de Misericórdia. Lá crianças indesejadas ou que não poderiam de alguma forma ser criada por seus pais eram deixadas anonimamente e, tocando uma campainha, as moças da Irmandade de Nossa Senhora Mãe dos Homens as recolhiam.
Após o ocorrido Carolina e Alexandre finalmente fogem para a Bahia, aumentando ainda mais a ira do Comendador Guilherme, porém lá, o casal que passa a viver disfarçado e atendendo por outro nome, não é descoberto e consegue constituir suas vidas, comprar uma fazenda e ter um outro filho.
Quatro anos depois Carolina e Alexandre recebem para passar a noite em sua casa uma mulher e uma criança pela qual ambos sentem uma afeição inexplicável. Em decorrência do sumiço da mulher que, durante a noite foge e abandona a criança, os dois decidem adota-la e a tratam como filha, obtendo uma descoberta inacreditável apenas anos depois quando finalmente retornam para a cidade de Campos.