{Resenha} Queria Ver Você Feliz - Adriana Falcão

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Autor(a): Adriana Falcão
Editora: Intrínseca
Ano: 2014
Páginas: 160
ISBN: 9788580577358

Sinopse: Há quem me chame de Eros, Kama, Philea ou Ahava. O Amor, esse personagem mítico, desempenha o papel de narrador na história real do casal Caio e Maria Augusta, pais da autora Adriana Falcão. O Amor se descreve como perfeccionista e obcecado pelos detalhes, nada que o impeça de ser um bocado descuidado com as consequências dos sentimentos que provoca com suas flechas.Assim, com uma linguagem poética e ao mesmo tempo muito bem-humorada, Adriana revela para seus leitores aquilo que poderia ser descrito como uma história trágica protagonizada por dois personagens atormentados por seus demônios. Apaixonados, Caio e Maria Augusta se casam no Rio de Janeiro da década de 1950 e têm três filhas. Todo o sentimento que eles compartilham não impede que a personalidade exuberante de Maria Augusta se torne mais obsessiva e asfixiante com o passar do tempo, apesar dos medicamentos e dos tratamentos psiquiátricos. Caio, por sua vez, aprofunda uma melancolia que existia nele desde a adolescência, e que culmina nos anos 1970 em tentativas de suicídio.Mais do que uma história com um final dramático, trata-se de memórias afetivas que alternam momentos de intensa felicidade e outros tantos de dor, como acontece nas melhores famílias."O fato é que eu poderia contar qualquer história de amor, mas se hoje minha memória anda às voltas com esta, de Caio e Maria Augusta, culpo quem abriu um certo baú florido onde estavam guardados cartões, bilhetes, retratos e cartas."

   Vou começar bem do comecinho, apresentado a vocês o narrador do livro, pois ele é, sem dúvida, um personagem para lá de importante nessa história. O apresento do jeitinho que ele mesmo se apresenta. Com charadas.
   O proibido sempre o atraiu, é natureza dele transgredir, invadir, violar. Obstáculos o fascina, seja terra abismo, censura, segredo, capricho de pai e mãe, seja o que for. É um penetra. Um dos bons. Com certeza já invadiu a sua vida. 
   É muito perfeccionista e é citado várias vezes ao dia, em vários lugares, por várias pessoas. "Amor" pra lá, "amor" pra cá, "amor não sei o quê". Às vezes ele é motivo, às vezes desculpa, às vezes o agradecem, outra o incriminam.

   Ele não tem sexo, nem corpo. Morre mas renasce, volta a morrer e renasce até o infinito.
 "A esta altura, você já deve estar adivinhando quem é este que vos fala, sou eu, sim. Há quem me chame de Eros, Kama, Philea, Ahava, há quem me chame de Amor, há quem me chame de Love." 
   Sim. é isso mesmo. O amor narra a história de Caio e Maria Augusta, alvos de mais uma de suas proezas da qual ele tanto se orgulha.
    A primeira vez que ele viu Maria Augusta ele estava lá pela Fonte da Saudade apreciando a tarde, quando avistou ela, inquieta. 
   Maria Augusta estava com apenas quatorze anos. Andava para lá e para cá na calçada com suas tranças no cabelo, pra lá de agitada, numa ansiedade que não a deixava parar quieta. 
   De cinco em cinco minutos olhava a rua, parecia esperar alguém.
   Era uma garotinha danada. Era uma garota com urgência de amar.
   
  Mesmo curioso sobre aquela garotinha nosso narrador acaba recebendo um chamado de emergência e lá foi ele procurando de onde vinha, até que em uma ruazinha, num prédio em frente a pracinha, ele encontra Caio.
   Caio tinha quinze anos. Era um garoto magro, alto, louro e meio desajeitado. Os olhos eram verdes e as olheiras profundas. 
  Naquela tarde Caio e seus amigos resolvem ir na Fonte da Saudade, onde as meninas passeavam sua belezas.
   Os meninos se animavam: "É hoje!"
   É então que Maria Augusta aparece com um pacote na mão, indo ansiosa ao encontro das amigas.
   Caio fica olhando ela correr em direção a Ruth.
     
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   Ela mostra para suas amigas uma fitinha de cetim que havia comprado para a sua gata, Janette. Só então o olhar de Maria Augusta cruza com o de Caio. A fitinha de Janette cai no chão.
   Depois daquele primeiro encontro Caio pensou em Maria Augusta nove vezes, ela, por sua vez, só parava de pensar em Caio quando dormia, e sonhava com ele.
   A missão de aproximar os dois não foi nada complicada visto que Maria Augusta logo tratou de conseguir informações de Caio com Norma, a irmã dele. Descobriu inclusive que ele morava bem pertinho e o mais importante: "Não, ele não tem namorada."
   Caio levou mais tempo para ter coragem de perguntar a sua irmã sobre Maria Augusta e, quando perguntou, disfarçava o interesse.
   O que aconteceu depois já era mais que previsto. Caio passou a buscar Maria Augusta no colégio, até que buscar no colégio fosse pouco e se transformasse no primeiro beijo confuso.
   Veio a proibição do namoro, o que só aumentou a vontade dos dois. O amor tem grande sedução pelo proibido.

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   Os dois passaram a trocar bilhetes e ter breves encontros. 
   Maria Augusta usava o passeio com a pequena sobrinha como desculpa para encontrar Caio, mas Tatina, mãe de Maria Augusta, logo descobriu e mandou a filha de férias para Porto Alegre.
   Afastar o casal que vivia o auge do seu entusiasmo foi um recurso infalível, pois só aumentou a saudade e o amor dos dois.
   Trocavam cartas constantemente, mesmo que Caio, também constantemente, demorasse a responder.

   Maria Augusta ficava para ter um treco quando demorava a receber cartas de Caio. Ela era assim: Agoniada, alvoroçada, engraçada, atrevida, dramática.
   Caio começou a trabalhar, o namoro foi oficializado. Caio viajava constantemente por conta do trabalho, ficaram noivos.
   
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  Finalmente se casaram depois de Maria Augusta, com seu gênio, dizer em um jantar que: ou marcariam logo o casamento ou ela iria engolir a aliança.
   Tiveram a primeira filha, e depois a segunda.
  Parecia tudo tão bem que demoraram a perceber que a ansiedade de Maria Augusta aumentava cada vez mais.
   Como engordou na gravidez começou a tomar remédios para emagrecer por conta própria. Como lhe tiravam o sono, se entupia de remédio para dormir. Porque não podia passar o dia sonolenta já que precisava trabalhar e cuidar das filhas, tomava energético.
   Tudo isso lhe causou agitação. Os ataques de nervos eram cada vez mais frequentes. Chorava por tudo, berrava, se debatia, ameaçava se jogar da janela.
    Foi quando ela quase realmente se atirou da janela apavorada porque Caio se atrasou vinte e seis minutos que ficou claro que ela precisava de uma intervenção externa urgente.
   Mas foi só depois de um briga com Caio, onde fósforos com gás e agonia acabou em incêndio, que o doutor Adalberto decidiu internar Maria Augusta numa clínica.
   Lá ela passou um pouco mais de um mês, morrendo de saudade das filhas e do marido. 
   Quando retornou para casa notou que o tempo internada fez com que as filhas procurassem mais a vó e as tias do que a ela. Foi então que teve a terceira filha, Adriana. Não tinha o menor problema em mostrar que aquela era a sua preferia, sua caçulinha.
   Caio recebeu uma  promoção no trabalho. A família se mudou para Recife. Maria Augusta tomava cada vez mais calmantes, não queria criar confusão. Uma crise profissional começou a explodir a autoestima de Caio. Maria Augusta se dopava, Caio lutava com seus medos.
   As filhas se casaram. Caio e Maria Augusta ficaram sozinhos em casa outra vez. A tristeza andava ambiciosa.
   Foi numa madrugada de 1978 que Caio tomou quatrocentos comprimidos para dormir.
   Nos anos que se passaram após da morte do marido Maria Augusta tomava cada vez mais remédios, fumava cada vez mais, começou a beber.
   Parecia mais fácil viver quando sabia que havia calmantes na gaveta e vodca na cozinha.
   Maria Augusta morreu na manhã seguinte do dia das mães de 1991 depois de uma madrugada de agonia, calmantes e bebida.

"Desde o início desse romance, me empenhei em ser intenso. Acredito que um trabalho só fica bem-feito quando a gente se joga nele com tudo. Aí, sim, o resultado, seja ele qual for, será perfeito.
Eu já disse que sou perfeccionista?"


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